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EditorialOs fascistas de esquerdaPor Carlos de JesusNa semana passada, Yves Boisvert, um dos melhores jornalistas do jornal La Presse, intitulou uma das suas crónicas com o título «Facho de gauche» para denunciar aquela franja protestatória, sobretudo universitária, panfletária e facebookista que não se coíbe em arrastar para a lama pública quem não lhe cai nas boas graças, como aconteceu aos três professores da UQAM (Université du Québec à Montréal) acusados nebulosamente de serem machistas ou, potencialmente, abusadores de alunas. Um deles teria organizado um colóquio só com oradores masculinos… Este apelativo «fascista» é raríssimo nestas paragens, e pela pena, sempre comedida e ponderada do Yves Boisvert, vem impregnado de acusações graves que nos devem por em guarda contra uma certa mentalidade do «quem não é por mim é contra mim» que grassa nos meios estudantis, sindicais e ecologistas, os quais encontram sempre ouvidos acolhedores e microfones condescendentes para lhes dar eco às palavras de ordem e trazer multidões para a rua. Este artigo faz-nos lembrar o que já dizia Guy Fournier, cineasta, escritor, polemista e antigo presidente da CBC-Radio-Canada, numa entrevista ao programa Les Francs-tireurs da Télé-Québec (zonevideo.telequebec.tv avançar até aos 15 minutos), na qual confessava que embora fosse nacionalista não era independentista por recear a mentalidade fascista patente na era de Duplessis e ainda bem presente nalguns setores da população, como foi o caso das manifestações irracionais dos «carrés rouges» durante a primavera da contestação dos estudantes e as ações violentas dos sindicatos contra a revisão dos planos de pensão. O debate histérico sobre o nome a dar à nova ponte que vai substituir a ponte Champlain é da mesma água. Não que se justifique tal mudança de nome (a não ser que fosse para se lhe dar o verdadeiro nome do fundador da Nova França, Samuel de Champlain) mas o facto de se ter gasto tanta tinta e tanto tempo de antena, cada um tentando sobrepor a sua voz à do outro, como se a gritaria fosse penhor de legitimidade, deve-nos também por de sobreaviso sobre as intenções dos zeladores armados em historiadores, mas na verdade deitando mão de todo o pau para alimentarem a sua fogueira. Este debate é tanto mais estranho que não conseguiu levantar nenhuma celeuma quando o nome de Maurice Richard foi proposto pela primeira vez em 2011 pelo ministro federal dos Transportes, Denis Lebel (tvanouvelles.ca O mesmo se poderá dizer do facto de ninguém ter protestado quando o nome de Champlain foi retirado de inúmeras designações toponímicas do Quebeque, como a RMC de Champlain que agora se chama Longueuil e tantas outras como se pode verificar na página da Commission de toponymie du Québec (www.toponymie.gouv.qc.ca todos os nomes que começam por «Remplacé par»). Porque é que só agora é que rebenta a polémica? Por quê tanta discussão inflamada, tanto arrazoado de indignação patriótica quando os mais tonitruantes ficaram quedos e mudos no momento do seu anúncio inicial? Porque por detrás da indignação das massas que saem para a rua há quem lhes manipule os cordelinhos. Há quem tenha agendas escondidas, quem procure acicatar o sentimento nacionalista da plebe contra o estrangeiro, seja ele o imigrante ou o governo de Otava. E que dizer do que foi o debate sobre a Carta dos valores quebequenses, que muitos ainda consideram pertinente? Sim, nunca é demais estarmos de sobreaviso e pé alerta quando a indignação desce à rua. |
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