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Agora pela mão de António BelasFerma - 50 anos a trazer para cá os sabores de láReportagem de Raquel CunhaA empresa montrealense Ferma comemorou 50 anos no passado domingo, dia 27 de novembro, no restaurante Portus Calle em Montreal. Foi uma receção para a comunidade e contou com a presença de todos os que fizeram parte da história deste negócio familiar, que tanto tem feito a ponte entre cá e lá.
A família Rocha com António Belas Foto: LusoPresse Tudo começou em 1963, conta-nos D. Rosa, antiga proprietária da firma. «Cheguei com o meu marido em janeiro e por volta do verão desse mesmo ano, já conhecíamos o Sr. Vasconcelos, também ele lisboeta». O Sr. Vasconcelos procurava introduzir produtos portugueses no supermercado IGA que possuía. Precisava então de uma companhia que mandasse vir coisas de Portugal e não tardou a que tanto o cunhado (José Rocha) como o marido (Armando Rocha) de D. Rosa fossem trabalhar para a dita empresa e se tornassem sócios da mesma. «Era duro na altura. Trabalhávamos muito, dias inteiros, por vezes sem comer. Deu muito trabalho no início e era eu e a minha cunhada que fazíamos tudo», afirma de olhar melancólico e continua «Rapidamente o Sr. Vasconcelos vendeu a sua parte» e o negócio tornou-se completamente familiar. Nessa altura tudo era feito à mão, o colorau era empacotado à colher e as pevides, favas e grãos, que os portugueses tanto gostavam «eram torradas no forno lá de casa». A empresa divide-se pelos irmãos, tornando-se em duas companhias diferentes, uma em Toronto, sobre a gestão de José Rocha e outra em Montreal, gerida por Armando Rocha. Dona Rosa só pode falar do que conhece, da empresa que ajudou a gerir com o marido. E ri. «Embora muito trabalhoso, eram bons tempos». Existia uma empatia forte entre a empresa e a comunidade «muitas vezes diziam que não tínhamos isso ou aquilo e na viagem seguinte do meu marido a Portugal, ele tratava de arranjar o produto que fazia cá falta». Começou assim a bater à porta das empresas cujos produtos queria importar. «Os produtos mais procurados eram o nosso azeite saloio, os figos recheados, o queijo da serra e as favas que faziam a delícia dos açorianos», e afirma que quanto a ela, o que mais sentiu falta quando cá chegou foi do café «não havia café que me soubesse tão bem como o nosso».
Em 1989 tanto ela como o marido decidem vendar a empresa. «Estávamos muito abalados com a morte da nossa filha e o Sr. Belas já tinha comprado a empresa do meu cunhado em Toronto. Ele era muito amigo do meu marido» e continua «estou muito emocionada por estar aqui hoje. Estou comovida e feliz por ser o Sr. Belas que está agora à frente da empresa, ele faz um bom trabalho». Foi há 22 anos que o Sr. António Belas comprou a empresa de Montreal. Antes dessa tinha já comprado a de Toronto, mas note o leitor que falamos de duas empresas distintas que procuram o mesmo fim; continuar o legado deixado pela família Rocha. Esse foi também um negócio de família adquirido com o pai e mais tarde o cunhado. Afirma que o maior desafio que teve ao longo destes anos foi a compra da empresa aos restantes membros da sua família «essas decisões nunca são fácies». Chegou ao Canadá com 15 anos e não se recorda de sentir falta de nenhum alimento em especial, mas confessa que ficou abismado com a neve e a grandeza do país. Gosta do Canadá, sobretudo por ser um país de oportunidade. Mas Portugal é a pátria que leva no coração, o lugar que o viu nascer e com o qual sentirá sempre uma conceção especial. Esteve sempre ligado à mercearia «creio que não saberia fazer outra coisa», afirma. Foi o trabalho de ajudante na peixaria do pai o seu primeiro emprego, com 17 anos. Mais tarde compra um supermercado a meias com o pai e de seguida também a meias compram «a Ferma de Toronto e já sabe a história». Está feliz com o sucesso da empresa. Reside em Toronto mas tem «gente boa a trabalhar» na companhia de Montreal, a qual visita todas as semanas. Afirma que não há diferença entre os produtos procurados pela Comunidade de Montreal e a de Toronto, «o saudosismo é o mesmo» e confessa que os mais vendidos continuam ainda a ser «o peixe, o azeite e o queijo». Agradece a preferência dos portugueses pelos seus produtos mas sabe que «o mercado português está em decadência. Há muito menos pessoas a emigrarem». Por isso, a nova política da empresa é atingir novos mercados «queremos introduzir os nossos produtos nos supermercados e também temos tido sucesso no mercado chinês e grego». Mas realça que em tempo de crise, «nós temos o dever de cuidar do que é nosso. Devíamos ser mais unidos e apoiar-nos.» Os «produtos portugueses são de ótima qualidade» e nessa altura porquê não ajudar o nosso mercado de exportação? Pense nisso da próxima vez que for às compras. E já agora, voltando à receção, resta dizer que este dia de aniversário, 27 de novembro, foi também o dia em que o Fado foi declarado Património da Humanidade pela UNESCO. Coincidência ou não? |
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Acordo Ortográfico
O que é o novo acordo? O LusoPresse decidiu adotar o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. Todavia, estamos em fase de transição e durante algum tempo, utilizaremos as duas formas ortográficas, a antiga e a nova. Contamos com a compreensão dos nossos leitores. Carlos de Jesus Diretor |
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